domingo, 1 de abril de 2007

A Ciência da Boca Livre

Hoje quero reapresentar o professor Johann Sebastian Freiermund, meu ilustre mestre na Sociologia Eleuterostomática, ou Ciência da Boca Livre. O professor já é conhecido dos leitores de A Grande Fênix e dos participantes da primeira Comunidade de Comportamentos Inusitados. Nada melhor que uma pequena biografia escrita pelo próprio professor, que me limito a traduzir:

Sou professor na Universidade de Heidelberg, onde tive a satisfação de orientar Basileu Xilóforo em um de seus pós-doutoramentos. Também ministros seminários executivos em todo o mundo, treinando tanto patrocinadores quantos usuários de eventos de Boca Livre. Esses eventos me ajudam tanto a explicar essa ciência fascinante aos leigos interessados, quanto a conseguir algum financiamento adicional para minha pesquisa. Os brasileiros estão entre os praticantes mais entusiásticos de Boca Livre; por isso, sou convidado freqüentemente a apresentar meus seminários nesse país fascinante. Como a maioria de alemães, gosto de cerveja, futebol e mulatas, embora eu seja um pouco velho para fazer muita coisa em relação ao último item. Devo confessar que acho o carnaval demasiadamente agitado para mim, seja no Rio, em Nova Orleãs ou em Munique. O mesmo vale para o samba, ou, aliás, para as polcas de cervejaria. Quanto para à feijoada, décadas de Boca Livre estragaram um tanto meu estômago e paladar. Conseqüentemente, quando não estou em atividades profissionais de Boca Livre, prefiro salgadinhos e aperitivos, tais como se pode achar em Imbisse alemães e em botequins brasileiros.

Infelizmente, o exercício dedicado da profissão trouxe ao mestre desagradáveis seqüelas estomacais, que, entretanto, tiveram um resultado também inusitado: o professor consome, quase exclusivamente, comida de botequim. Não só por esse sacrifício pela Ciência, mas por inúmeras outras contribuições, deu-se seu nome ao Princípio de Freiermund, o mais importante de toda a Sociologia Eleuterostomática. Como diz ele:

Meus colegas foram muito amáveis em batizar esse princípio com meu nome, mas, de fato, apenas formalizei uma noção intuitiva e bem conhecida. Prefiro chamá-la de Princípio Fundamental da Boca Livre: A humanidade tem irresistível compulsão e fascínio indomável por refeições gratuitas. Dizendo de outra maneira, em termos mais populares: Boca Livre, todo mundo gosta. Tal atração irresistível é chamada eleuterostomatotropismo. Provavelmente, apareceu no alvorecer da humanidade, quando os primeiros caçadores mataram uma caça muito maior do que eles e sua família imediata podiam comer; digamos, mamutes ou preguiças gigantes. Assim, convidaram parentes, vizinhos, amigos e amigos dos amigos, e deram festas para partilhar aquela carne. O retorno do investimento veio de diversas maneiras: convites para eventos similares, alianças, redes da influência e fêmeas com bom potencial de parição. Tudo isso aumentou as possibilidades da sobrevivência para os genes desses caçadores, reforçando a propensão á Boca Livre, como patrocinadores ou usuários.

Os xenoetólogos consideram a Sociologia Eleuterostomática com uma das principais ramificações de sua ciência, com o mesmo nível de rigor científico. O nome dessa especialidade deriva das palavras gregas ελεύθερος (livre) e στόμα (boca). A primeira palavra lembra o nome próprio Eleutério, que significa livre. A segunda, em caracteres latinos, fica stoma, plural stomata. Estomatologia, por exemplo, é uma disciplina da Odontologia.

Um comentário:

Babs disse...

Já estava demorando para um assunto deveras tão importante ser tratado neste ilustre blog!!
Assim que possível (assim que houver disponibilidade) gostaria de discutir a boca livre sob um ponto de vista filosófico...