sexta-feira, 16 de março de 2007

A espantosa sobrevivência da astrologia

Por que a astrologia sobrevive de forma espantosa há tantos milênios, mesmo contradizendo frontalmente a ciência dos últimos séculos? Além disso, ao contrário do criacionismo, não tem apoio de qualquer religião significativa, ou base em qualquer Escritura difundida. Pelo contrário, é explicitamente considerada pela Igreja Católica como uma reprovável superstição. Mesmo assim, existe muito mais gente que acredita em horóscopos do que no criacionismo.

Para mim, se deve a fenômenos psicológicos simples, sem muita relação com religião ou ciência. Em primeiro lugar, os astrólogos têm milenar tradição de bajular os poderosos. Como estes, em geral, têm inteligência acima da média (senão não seriam poderosos por muito tempo), bajular as pessoas comuns é ainda mais fácil. Os astros são apenas pretextos para falar do assunto que mais interessa às pessoas: elas mesmas. Têm sido usados outros pretextos, como borras de café, folhas de chá e entranhas de aves (para desgosto da Grande Fênix), mas os astros são bem mais práticos. E, para muitos eruditos da antiguidade, a astrologia servia de ganha-pão, enquanto estudavam a astronomia.

Assim, quando o horóscopo, o biscoitinho da sorte ou a Sorte do Dia do Orkut fazem uma análise ou previsão, geralmente tem as seguintes características:

1. É bastante vaga (por exemplo: Seu destino mudou completamente hoje).

2. É geralmente positiva e otimista: algo em que as pessoas gostem de acreditar (por exemplo: Você nunca vacila ao lidar com os problemas mais difíceis ou Seus planos atuais serão bem-sucedidos).

3. Geralmente aconselha o mesmo que o bom senso (por exemplo: Seja cuidadoso em empreendimentos arriscados).

E o mais importante de tudo, se você não concordar com algum detalhe de seu horóscopo, tem um excelente pretexto para falar de si: Não, eu não sou bem assim, sou assado... E falar de si, para a grande maioria das pessoas, é algo delicioso, que as convenções sociais normalmente reprimem.

Um amigo meu, durante certo tempo, se passou por astrólogo para pegar mulher (não foi o Zé). Dizia ele que funcionava; de fato, ele costuma andar bem servido, mas não sei se a causa disso eram os mapas astrológicos que ele fazia. Uma comprovação científica exigiria mais amostras de dados, mas é, sem dúvida, plausível, já que toda conquista envolve manipulação psicológica, no estilo da que acabei de descrever. A interpretação dos mapas induz a consulente a falar de si mesma, confirmando ou retificando as análises; em geral, confirmando, pois todo astrólogo toma o cuidado de fazer análises as mais lisonjeiras que puder. E, ao falar de si mesma, a musa fornece, sem nem perceber direito, informação vital para uma segunda onda de ataque...

3 comentários:

Babs disse...

Realmente a astrologia tem uma popularidade desconcertante visto a inutilidade de suas previsões...
Observação, se a informação não "bater" ainda se pode apelar para o absurdo "não é bem assim por causa do meu ascendente em leão " ou "minha lua em sagitário"...

Unknown disse...

Não ficou boa a crítica não. recomendo estudar um pouco mais a astrologia, fazer um mapa astral com um astrólogo com pelo menos 20 anos de experiência com alguma boa vontade.
Você vai descobrir que a razão pela qual a astrologia "surpreendentemente" permanece em voga é o fato de que as informações ali contidas são válidas para as pessoas que consultam.

Basileu Xilóforo disse...

Por que eu deveria estudar um pouco mais de astrologia e não de qualquer outro método de adivinhação? Digamos, por exemplo, copromancia?