quinta-feira, 14 de junho de 2007

Um inusitado sexual bíblico

Segundo se conta em Gênesis 38, Judá, filho de Jacó, teve três filhos varões: Her, Onan e Sela. Her, o primogênito, casou-se com Tamar; mas era um mau sujeito, e por isto foi castigado com a morte prematura. Conforme costume da época, Judá ordenou a Onan que desposasse a cunhada. Ocorre que, também conforme o costume, os filhos seriam considerados descendência do falecido. Onan não gostou da idéia de ficar sem posteridade, e praticou o coitus interruptus. Por isto, também foi punido com a morte prematura.

O inusitado, no caso, é que Onan ficou com fama de onanista. Injusta, como se vê, pois o que ele realmente fez foi tirar o dele fora. Mas pecado de Onã não foi nem esse, e sim o descumprimento da lei do levirato, privando o irmão morto de posteridade, conforme as regras do jogo do judaísmo da época:

8. Então Judá disse a Onã: “Vai, toma a mulher de teu irmão, cumpre teu dever de levirato e suscita uma posteridade a teu irmão.” 9. Mas Onã, que sabia que essa posteridade não seria dele, maculava-se por terra cada vez que se unia à mulher do seu irmão, para não dar a ele posteridade. 10. Seu comportamento desagradou ao Senhor, que o feriu de morte também.

E a história continua de forma talvez ainda mais inusitada:

11. E Judá disse a Tamar, sua nora: “Conserva-te viúva em casa de teu pai até que meu filho Sela se torne adulto.” “Não é bom, pensava ele consigo, que também ele morra como seus irmãos.” E Tamar voltou a habitar na casa paterna. 12. Muito tempo depois, morreu a filha de Sué, mulher de Judá. Passado o luto, subiu Judá a Tamna para a tosquia de suas ovelhas, com seu amigo Hira, o odolamita. 13. E foi noticiado a Tamar: “Eis que o teu sogro sobe a Tamna para a tosquia de suas ovelhas.” 14. Depôs ela então os seus vestidos de viúva, cobriu-se de um véu, e, assim disfarçada, assentou-se à entrada de Enaim, que se encontra no caminho de Tamna, pois via que Sela tinha crescido e não lha tinham dado por mulher. 15. Judá, vendo-a, julgou tratar-se de uma prostituta, porque tinha o rosto coberto. 16. E, chegando-se a ela no caminho, disse: “Queres juntar-te comigo?” (Ignorava ele que se tratava de sua nora.) Ela respondeu: “O que me darás para juntar-me contigo?” 17. “Mandar-te-ei um cabrito do meu rebanho.” “Está bem; mas dá-me então um penhor, até que o tenhas enviado.” 18. “Que penhor queres que eu te dê?” “Teu anel, teu cordão e o bastão que tens na mão.” Ele os entregou; em seguida, aproximou-se dela e ela concebeu. 19. E levantando-se, partiu; tirou o seu véu e retomou seus vestidos de viúva. 20. E Judá mandou-lhe o cabrito por seu amigo, o odolamita, para retirar o penhor das mãos daquela mulher, mas ele, não a encontrando, 21. perguntou aos habitantes do lugar: “Onde está aquela prostituta que estava em Enaim, à beira do caminho?” Responderam-lhe: “Não há prostituta nesse lugar!” 22. Ele voltou para junto de Judá: “Não a encontrei, disse ele, e os moradores daquele lugar disseram-me que não havia nenhuma prostituta ali.” 23. “Guarde ela o meu penhor, respondeu Judá, não nos tornemos ridículos! Eu mandei o cabrito; tu, porém, não a encontraste”. 24. Mais ou menos três meses depois, vieram dizer a Judá: “Tamar, tua nora, conduziu-se mal: vê-se que está grávida.” Judá respondeu: “Tirai-a para fora, que ela seja queimada!” 25. E, enquanto era conduzida, ela mandou dizer ao seu sogro: “Concebi do homem a quem pertence isto: examine bem, ajuntou ela, de quem são este anel, este cordão e este bastão.” 26. Judá, reconhecendo-os, exclamou: “Ela é mais justa do que eu; pois que não a dei ao meu filho Sela.” E não a conheceu mais. 27. E, na ocasião de dar à luz, eis que ela trazia dois gêmeos no seu ventre. 28. No parto, saindo uma mão, a parteira tomou-a e atou nela um fio vermelho, dizendo: “Este é o que saiu primeiro!” 29. Mas, como ele retirasse a mão, saiu o seu irmão. “Que brecha fizeste! exclamou a parteira: Que a brecha esteja sobre ti!” 30. E chamou-se-lhe Farés. Em seguida, veio o seu irmão, com o fio vermelho atado na mão. Deu-se-lhe o nome de Zara.

Como se vê, a lei do levirato justificava até fingir-se de prostituta para seduzir o sogro. E essa história de Que brecha fizeste! seria considerada como de humor rude, se contada em um salão. Parece piada de ginecologista.

Para deixar claro que não estou simplesmente zombando das Escrituras, acrescento aqui o que escrevi n'A Grande Fênix:

Note o leitor que essas histórias de libertinagem no Velho Testamento não significam que o Livro seja um repositório de sacanagens, como até imaginam alguns que nunca o leram. Significam apenas que a Bíblia contém um rico conjunto de narrativas com personagens bastante humanos, com todas as altezas e baixezas dessa condição. Quem fica mal, julgo eu, são aqueles gostam de usar citações literais de escrituras de qualquer religião para justificar os comportamentos mais inusitados.

domingo, 10 de junho de 2007

O comportamento sexual mais inusitado

Discussões sobre sexo costumam despertar grande interesse. Atualmente, uma das discussões mais candentes na comunidade xenoetológica é sobre a questão de qual é o mais inusitado dos comportamentos sexuais. Segundo a Seita da Grande Fênix, é a assexualidade. Para eles, isso é coisa de ameba.

Outros discordam, citando o caso da zoofilia, e até da fitofilia. Como disse uma de minhas estudantes: eu gostaria de citar o costume peculiar e comum em regiões isoladas, ou seja, na roça, de se entreter com animais como cabras e galinhas, e todo tipo de fauna da zona agrícola... E não posso deixar de citar também que as vezes este hábito se estende ao reino vegetal inclusive, visto os contumazes ataques a incautas bananeiras em regiões de alta concentração masculina... Isto, para mim, é que é comportamento inusitado...

Essas investidas sexuais nos reinos animal e vegetal podem ser consideradas casos particulares do pansexualismo, para o qual todo o Universo é fair game, ou, em português coloquial, ’tá valendo. Pergunto-me como fica o reino mineral, do ponto de vista pansexual. É verdade que a maioria dos objetos deste reino não tem textura ou consistência viável para tais práticas. Naturalmente, existe a exceção dos artefatos tecnológicos, como é o caso dos implementos sexuais (vibradores, bonecas infláveis etc.). Na comunidade xenoetológica, continua sendo objeto de debate a questão: devem os usuários de tais artefatos serem considerados pansexuais ou monossexuais (isto é, masturbadores)?

A propósito do papel da tecnologia na sexualidade, meu colega Metódio Prudente, que é do ramo, elaborou arguto comentário sobre o pansexualismo virtual: Por que ser um chauvinista do mundo real? O pansexual moderno que se preze deve incluir o mundo virtual, com suas possibilidades infinitas (literalmente). Não é por acaso que a pornografia é uma das maiores áreas de comércio eletrônico (senão a maior). É interessante também notar que a convergência tecnológica entre os implementos sexuais e a virtualidade já permite que parceiros façam sexo à distância, usando trajes apropriados que transmitem seus movimentos para implementos usados pelo parceiro remoto. É a tecnologia teledildônica, um exemplo notável de realidade aumentada.

Bem, eu entendo que o sexo virtual antecede a Era da Informática. O sexo por telefone existe há décadas, proporcionando um ganha-pão extra a tantas recatadas donas de casa, sem que precisem sair do recesso de seu lar.

Mais ainda, o sexo virtual é pré-tecnológico. Um dos casos mais interessantes é o do Pensador. Esse personagem, ao que consta, se apresentava em cabarés parisienses, no início do século passado. Aparecia no palco completamente nu, e assumia a pose da escultura homônima de Rodin. Aos poucos, absolutamente imóvel, ia conseguindo uma ereção. Permanecia nesse estado por alguns minutos, e finalmente ejaculava. É um exemplo impressionante do Poder do Pensamento Positivo.

domingo, 3 de junho de 2007

Máximas Trinatórias

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