domingo, 28 de junho de 2009

Formigas céticas, aranhas ciumentas e ratos sábios

Formigas ferozes versus monges pacifistas

No templo budista de Ang Hock Si, na Malásia, os monges e seus fiéis costumam meditar sob uma figueira sagrada. Entretanto, apareceu uma praga de formigas na figueira, e eles costumam cair sobre os devotos, e as picadas são dolorosas. Os monges são capazes de ignorar a dor por meio de um tipo especial de meditação, mas, segundo diz notícia da BBC Brasil, em consideração aos devotos menos avançados no caminho da luz, os monges estão procurando formas de persuadir as formigas a ir embora. Bem, isto depois de tentarem um aspirador de pó, que não deu certo.

Os monges são proibidos de fazerem mal às formigas, ou encorajar alguém a fazê-lo, mas, dizem que, se alguém aparecer espontaneamente e lidar com elas sem o envolvimento deles, esta terá sido a vontade do universo.

Como se vê, bobos eles não são. Como diria filosoficamente o Zé Mineirim, num caso desses: uai, se alguém dé um jeito nas bichinha, fazê o quê, né, sô?

Aranha macho põe “cinto de castidade” na fêmea

Os machos da aranha-vespa (Argiope bruennichi) já correm riscos demais no amor, como acontece com os colegas de outras espécies aracnídeas. Sendo muito menores do que as fêmeas, costumam ser devorados logo após os finalmentes, fazendo as vezes de sobremesa. Para piorar, as fêmeas são promíscuas, e se houver outro macho disponível por perto, logo traçam esse também, em ambos os sentidos. Naturalmente, isso reduz a chance de cada macho de deixar descendência.

Mas não para o aranho-vespo. Simplesmente, na hora de tirar, ele deixa a pontinha do dito cujo lá dentro. De certa forma, é o simétrico daquela história de só a cabecinha. Com isso, se não conseguir fugir em tempo, pelo menos a descendência está garantida, já que a pontinha funciona como um cinto, ou melhor, uma rolha de castidade: outros machos não conseguirão depois depositar seu esperma. O tampão não atrapalha a postura de ovos, pois a fêmea tem portas separadas para a entrada e a saída. No final das contas, o macho fica meio castrado, mas pelo menos tem a garantia de que será um feliz pai.

Isso é que é medo de ser corno. Deixar um pedaço lá dentro, só para ter certeza de que os filhotes não vão sair com a cara do vizinho!

Ratos sabem da própria ignorância

Só sei que nada sei, disse Sócrates, demonstrada a capacidade dele para o que os cientistas chamam de meta-cognição, e muitos consideram como traço essencial da consciência humana. Bem, talvez não tão essencial; segundo Bertrand Russell, apenas os inteligentes são cheios de dúvidas, enquanto os imbecis são cheios de certezas.

Mas um estudo de Jonathon Crystal e Allison Foote, da Universidade da Geórgia, mostra que os ratos parecem estar no time dos inteligentes. Eles tinham que classificar sons emitidos pelos pesquisadores como “curtos” ou “longos’. Nos acertos, ganhavam uma porção de comida, e nos erros nada ganhavam; e podiam também desistir, em cujo caso ganhavam meia porção. Alguns sons de duração média eram difíceis de classificar e, nesses casos, desistir era uma estratégia mais segura. O estudo mostrou que, com o tempo, os ratos aprendiam sobre a própria capacidade de classificar, e só arriscavam quando sabiam que tinham alta chance de acerto.

Muita gente pode aprender alguma coisa com eles.

sábado, 20 de junho de 2009

Ciência confirma a importância da fofoca

Coisa, de resto, assaz conhecida em bairros, cidades do interior, empresas, escolas, famílias e outras organizações. Mas é a conclusão de um estudo do biólogo Ralf D. Sommerfeld, que analisa uma aplicação prática da Teoria dos Jogos. Mais de uma centena de voluntários participou de uma série de jogos. Os jogadores atuavam em duplas, tendo, em cada jogada, a opção de cooperar com o parceiro ou traí-lo. As regras eram tais que um jogador ganharia se traísse, mas não se o parceiro contasse com a possível traição. Portanto, era preferível construir a reputação de ser confiável.

Segundo o pesquisador, em notícia publicada no Estadão:

Em uma situação natural é improvável que possamos observar todas as pessoas com quem interagimos todo o tempo. É particularmente impossível 'ter estado observando' pessoas com quem só vamos interagir no futuro. Antropólogos e biólogos evolucionários supunham que essa informação (que não vem da observação) é adquirida por meio da fofoca.

Segundo o pesquisador, o novo estudo confirma a hipótese de que a fofoca transmite informação, e que essa informação é levada a sério. Só não se esperava que fosse levada tão a sério.

Em uma das rodadas do jogo, os participantes receberam relatórios com todas as jogadas anteriores feitas pelos colegas - quantas traições e quantas cooperações - além de uma fofoca artificial, que podia ser tanto positiva quanto negativa. A expectativa dos cientistas era de que, tendo o relatório para se basear, os jogadores ignorariam a fofoca na hora de decidir como interagir com o colega.

A suposição se mostrou falsa: 44% dos participantes do jogo mudaram de decisão ao tomar conhecimento da fofoca. Desses, 79% (ou 35% do total) decidiram cooperar sob a influência de fofoca positiva ou trair na presença de fofoca negativa. Com o nível de cooperação médio do jogo na ausência de fofoca em 62%, a presença de fofoca positiva elevou a taxa a 75%. Já a de fofoca negativa reduziu-a a 50%.

Fofoca tem um forte potencial para manipulação, que pode ser usado por trapaceiros para mudar a reputação de terceiros ou a própria, conclui o estudo.

A Teoria dos Jogos, que foi a base do experimento, ganhou o Nobel de Economia de 2007, com o trabalho de Leonid Hurwicz, Eric Maskin e Roger Myerson. A mesma Teoria já tinha dado o Nobel a John Nash, retratado no filme Uma Mente Brilhante.

A conclusão é confirmada por artigo do psicólogo social Frank T. McAndrew, em artigo no número de outubro de 2008 da Scientific American Mind (resumo aqui). Segundo ele, fofoca é um fenômeno mais complicado e socialmente importante do que pensávamos. É um subproduto da psicologia que evoluiu nos tempos pré-históricos para permitir que nossos ancestrais sobrevivessem e prosperassem em suas comunidades.

Segundo .McAndrew, a fofoca tem vários aspectos positivos: a confiança no parceiro de fofoca, a ligação causada pela partilha de segredos, o aprendizado de regras sociais e culturais não escritas, a lembrança de importância de regras e valores sociais, o desencorajamento de comportamentos contrários às normas estabelecidas, e, talvez o principal, ser o meio mais direto de se comparar socialmente com os outros.

O autor argumenta que a fofoca faz parte de nossa identidade, e parte essencial do funcionamento dos grupos, e deveria ser vista como uma proficiência social, e não como um defeito de caráter. Mas, diz ele, há que se fofocar na medida certa: fofoque demais, e será visto como não confiável; de menos, e se isolará socialmente. O bom fofoqueiro seria aquele que partilha informação importante, mas sem parecer que está agindo no interesse próprio, e sabendo calar a boca na hora apropriada. E, finalmente, a fofoca seria um lubrificante importante das conversas do dia a dia.

Bem, eu devo ser meio esquisito, pois acho que estranho mesmo é considerarem-se positivas todas essas coisas. E as conclusões da pesquisa parecem uma confirmação do valor prático do cinismo...