domingo, 13 de março de 2011

Xenoetologia política – II





Senador defende cota para nepotismo

Um dia após o STF extinguir o nepotismo no Judiciário, o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) se disse contrário à proibição da contratação de parentes para o Executivo e Legislativo, proposta em tramitação na Câmara dos Deputados.

O senador defende que haja uma cota -- que poderia chegar a 10% -- para que o parlamentar ou o funcionário do Executivo contrate um parente. “Seria uma coisa razoável, que não implicaria que eu tivesse um parente especialista no assunto e que não pudesse contribuir com ele”, afirmou.

O senador argumenta que cargos nos tribunais, como de ministro do STF, são vitalícios e nesses casos as contratações de funcionários configurariam nepotismo.No Legislativo, como os mandatos são fixos, a contratação de membros da família não seria irregular.

O Senador Mozarildo começou a ficar famoso na eleição indireta de Tancredo. Nessa época, ainda um modesto e jovem deputado estadual, era um dos eleitores malufistas do Colégio Eleitoral. Na véspera da votação, apareceu no comitê de Tancredo, perguntando como é que se aderia...

Poderia acrescentar que o nepotismo é uma prática histórica respeitável, por muito tempo usada pelos Papas. Até o Século XVI, um dos postos mais poderosos do Vaticano era o de Cardeal-Sobrinho, título oficial, que, é claro, era sempre ocupado por um sobrinho do Papa. Vale lembrar que tanto sobrinho como neto se traduzem em latim por nepos e em italiano por nipote, origens do termo nepotismo. Só começou a pegar mal depois que o Papa Júlio III nomeou para o cargo um sobrinho adotivo de 17 anos, que na realidade era um menino de rua que caíra nas graças papais... como amante.

Para China, ativista paralisado se auto-espancou

Uma investigação das autoridades chinesas chegou à conclusão de que o ativista Fu Xiancai, paralisado após sofrer um grave espancamento, provocou os ferimentos em si mesmo. o espancamento em junho foi tão grave que ele nunca mais poderá andar. Mas a investigação oficial chegou à conclusão de que o ataque foi fabricado.

As autoridades disseram ao filho do ativista que os investigadores não encontraram pegadas de outras pessoas no local do ataque e concluíram que ele teria batido em si mesmo. Segundo a Human Rights in China (HRIC), os golpes atrás de seu pescoço foram tão fortes que três de suas vértebras foram quebradas.

O ativista vinha chamando a atenção para os problemas das pessoas forçadas a deixar suas casas para a construção da barragem para a usina de Três Gargantas. O governo chinês diz que a usina, que será a maior do mundo, proverá energia para sua economia em crescimento e ajudará a controlar as enchentes do rio Yangtze. Mas, segundo a HRIC, ela tem custado a destruição de vilarejos, muitos dos quais foram transferidos para outras áreas de qualidade inferior sem compensação pelas autoridades.

Suicídios inusitados de presos políticos são conhecidos, como os casos de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, durante a ditadura brasileira. Ou o caso do terrorista alemão Andreas Baader, que se teria suicidado na prisão com um tiro na própia nuca. Mas esse deve ser o primeiro caso de auto-espancamento brutal, em todo o mundo.

Homem come dedo de comerciante em Portugal

Um cliente insatisfeito engoliu o pedaço do dedo arrancado a dentadas do proprietário de um bar, em Portugal. O dono do bar "Faz de Conta", em Ovar, começou a discutir com um cliente, durante a madrugada, por volta da 1h30. O motivo da discussão seria o fato de o cliente não ter dinheiro suficiente para pagar pelas bebidas que ele havia consumido. No calor da discussão, o cliente mordeu o dedo do dono do bar, arrancou um pedaço dele com os dentes e engoliu-o em seguida.

Quando a polícia chegou encontrou o dono do bar sem um pedaço do dedo e o cliente bastante machucado e com traumatismo craniano. Ambos tiveram que ser levados para o Hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira. A polícia registrou a ocorrência, todavia nenhuma das partes envolvidas na briga desejou apresentar queixa formal contra a outra.

Ora, perguntarão, e o que tem isso a ver política? Tudo, respondo eu. O dono do bar não quis registar queixa porque julga poder agora realizar o velho sonho de entrar para a política. “Portanto, quem sabe chego a Presidente?”

Cavaco, cuida-te.

Orientação eleitoral

Na época de uma das eleições recentes, uma leitora me fez a seguinte consulta:

Tenho estado meio por fora das discussões aqui feitas, mas gostaria de perguntar algo de interesse público ao nosso sempre iluminado mestre, Dr. Basileu. Em quem o senhor acha mais sensato votar: nos Girondinos ou nos Jacobinos? A mim parece que, com qualquer um destes, seremos igualmente decapitados. Que fazer, então?

Respondi-lhe com as considerações a seguir.

Meu voto costuma pautar-se pelas palavras de dois grandes escritores.

De um lado, diz Shakespeare, no monólogo de Hamlet: Rather bear those ills we have, than fly to others that we know not of. Em tradução um pouco livre: Melhor suportar os males que temos, que voar para os que desconhecemos.

A outra citação é de Jorge Amado. Essa, todo mundo conhece.

V de Vingança

Assisti, há algum, ao filme V de Vingança, o novo sucesso dos irmãos Wachowski. Achei parecido com um cruzamento entre O Fantasma da Ópera e 1984, o que é um elogio, pois gosto muito de ambos. Aliás, o filme faz uma homenagem explícita ao livro de Orwell: John Hurt, que faz o papel de ditador, era o herói de 1984, na última versão filmada.

A máscara do filme é usada em tradicional evento inglês, a Noite de Guy Fawkes. Essa festa lembra a Conspiração da Pólvora, na qual um grupo de conspiradores católicos, liderados por Guy Fawkes, tentou explodir o Parlamento britânico, no dia em que o rei Jaime I faria a abertura de seu ano oficial. Chegaram a colocar em túneis sob o Parlamento quase uma tonelada de pólvora, o que teria reduzido a escombros o complexo de edifícios, já bastante grande naquela época.

A conspiração fracassou porque um dos conspiradores enviara uma carta a um parlamentar católico, sugerindo que ele não comparecesse à sessão fatídica. O parlamentar mostrou a carta a um ministro, e uma varredura dos túneis apanhou Fawkes pronto para a ação. Sob tortura, ele entregou os outros conspiradores, e foram condenados à pena de Hanging, drawing and quartering, reservada aos traidores. Não era um enforcamento simples: o condenado era arrastado até o lugar de execução; enforcado brevemente mas retirado ainda vivo; estripado e castrado, sendo os respectivos materiais queimados diante dele; e finalmente, decapitado e esquartejado, sendo seus pedaços expostos. Outro que recebeu esse castigo foi William Wallace, encarnado por Mel Gibson, no filme Coração Valente, que também apresenta uma versão atenuada do método de execução do herói.

Um dos pubs mais tradicionais de Londres é o Hung, Drawn and Quartered, que ostenta uma placa com uma citação famosa do diarista Samuel Pepys:

Seja como for, Fawkes, logo após ser retirado da forca, conseguiu se livrar dos carrascos, e pulou do cadafalso, quebrando o pescoço, para grande frustração dos espectadores. A partir daí, passou a ser um personagem visto de forma ambígua na memória inglesa.

Na tradição protestante, é o traidor papista, que tentou liquidar de um só golpe rei e parlamento, os dois pólos do Estado britânico. No dia 5 de novembro, o fracasso da Conspiração da Pólvora é comemorado com fogos de artifício, e bonecos de Fawkes são malhados, como os nossos Judas. Cantam-se os versos tradicionais:

Remember, remember the fifth of November,

The gunpowder, treason, and plot,

I see of no reason why gunpowder treason

Should ever be forgot.

Guy Fawkes, Guy Fawkes, 'twas his intent

To blow up the King and the Parliament.

Three score barrels of powder below,

Poor old England to overthrow;

By God's providence he was catch'd

With a dark lantern and burning match.

Holloa boys, holloa boys, make the bells ring.

Holloa boys, holloa boys, God save the King!

Hip hip hoorah!

Antigamente, malhavam-se também bonecos do Papa, e os versos continuavam assim:

A penny loaf to feed the Pope.

A farthing o' cheese to choke him.

A pint of beer to rinse it down.

A faggot of sticks to burn him.

Burn him in a tub of tar.

Burn him like a blazing star.

Burn his body from his head.

Then we'll say ol' Pope is dead.

Hip hip hoorah!

Hip hip hoorah hoorah!

Em nome da boa convivência ecumênica, essa parte não é mais usada.

Crianças usando máscaras de Guy Fawkes pedem a penny for the guy. Vem daí o uso de guy com o significado de sujeito, cara...