terça-feira, 24 de julho de 2007

Tecnicalidades

Os aspectos técnicos da xenoetologia sexual por vezes confundem os leigos. Por exemplo, como classificar o uso de bonecas infláveis? Uma leitora assídua indaga se seria um caso de masturbação, ou seja, monossexualismo? Ou seria tecnossexualismo, pelo emprego de um artefato? Ou, não podendo esse artefato ser realmente classificado como técnico, e sim como um objeto qualquer, um caso de pansexualismo?

Técnicos como meu amigo Metódio Prudente dizem que, seja como for, é indispensável o uso da correta taxonomia. Sem chegar a entrar no mérito das bonecas infláveis, diz o Metódio: Como engenheiro de software, considero extremamente importante o uso da melhor taxonomia possível, para a classificação consistente dos conceitos e o conseqüente bom entendimento dos problemas. Proponho, portanto, a adoção do termo tecnossexual para os que fazem sexo com artefatos técnicos, e do termo cibersexual para os usuários dos recursos virtuais.

Já o outro amigo d’além-mar, Manuel Rui Pontes, que, na qualidade de engenheiro de sistemas é especialista em generalidades, aduz:

Apoio tua ênfase na importância da taxonomia, ó Metódio, e venho propor-te um problema taxonómico. Estava outro dia com os camaradas em uma tasca da Alfama, a petiscar uns caracóis, tomar uns finos e discutir lérias. Depois de umas quantas, perguntou alguém o seguinte:

-Se um gajo fizer sexo com seu próprio clone, estará a dar ao hidráulico, ou será paneleiro?

Ora pois, não é preciso ser biólogo para saber que masturbação não é, e que, sendo o clone do mesmo sexo, certamente tal proceder se caracteriza como gay. Mas veio-me outra dúvida: será, no caso, um gay incestuoso? Quer-me parecer que o conceito de incesto não é preciso o suficiente para dirimir a importante questão.

Lembro-me de uma história do Robert Heinlein em que o personagem Lazarus Long manda fazer clones dele mesmo. Melhor, DUAS clones, pois os cromossomos Y são trocados por cromossomos X do próprio Lazarus, para que saiam duas meninas; o objetivo de Lazarus é ver como é que ele seria se fosse mulher, sem ter que virar transgênero. Mal as garotas atingem a puberdade, querem transar com o Lazarus. Este resiste, alegando que é incesto (a idade das meninas ele não considera problema). Elas finalmente o convencem de que seria apenas uma espécie de masturbação. Como você vê, a dúvida da turma do Manuel não é de todo despropositada.

Ao ser publicada no Orkut a observação do Manuel, levantou-se um assunto que, por vias indiretas, tem a ver tanto como tecnologia quanto sexualidade. É sabido que a moda da depilação axilar feminina foi inventada apenas em 1915, pela indústria americana de lâminas de barbear, com isso dobrando seu mercado consumidor. Daí o barbear feminino espalhou-se para as pernas e, nas últimas décadas, a lugares mais recônditos, que passaram do conceito de Mata Atlântica ao de Bigodinho de Hitler, e até a soluções ainda mais radicais. Não faltou aí a contribuição da tecnologia tupiniquim, conhecida como Brazilian Wax lá na matriz, onde segundo dizem, tornou-se em certas cidades (das quais Dallas é a mais citada) um presente tradicional para debutantes. Bem, quanto às conotações sexuais, as opiniões são extremamente divergentes.

Na ocasião, a Leitora Assídua lembrou a conhecida piadinha do Ai Jesus, mais duas!!!, que trata de uma hipotética relutância das lusitanas na adoção dessa tecnologia. Sobre isso, comentou o Manuel:

Quanto a tua historieta, talvez ainda possa passar-se em um algum recanto de Trás-os-Montes ou do Alentejo. Mas cá em Lisboa há muito se adopta entre as raparigas a moda depilatória axilar. Mesmo as conas andam a ser desarborizadas, por influência brasileira. Não me refiro à Amazónia, é claro, mas aos fatos de banho cavados.

domingo, 15 de julho de 2007

O teste da mulher infiel

Um contribuinte anônimo me enviou o seguinte inusitado sexual bíblico, que aparece em Números, 5. Trata-se de um teste para uso de maridos que suspeitam esteja a senhora do seu lar costurando para fora:

Se uma mulher desviar-se de seu marido e lhe for infiel, 13. dormindo com outro homem, e isso se passar às ocultas de seu marido, se essa mulher se tiver manchado em segredo, de modo que não haja testemunhas contra ela e ela não tenha sido surpreendida em flagrante delito; 14. se o marido, tomado de um espírito de ciúmes, se abrasar de ciúmes por causa de sua mulher que se manchou, ou se ele for tomado de um espírito de ciúmes contra sua mulher que não se tiver manchado, 15. esse homem conduzirá sua mulher à presença do sacerdote e fará por ela a sua oferta: um décimo de efá de farinha de cevada; não derramará óleo sobre a oferta nem porá sobre ela incenso, porque é uma oblação de ciúme feita em recordação de uma iniqüidade. 16. O sacerdote mandará a mulher aproximar-se do altar e a fará estar de pé diante do Senhor. 17. Tomará água santa num vaso de barro e, pegando um pouco de pó do pavimento do tabernáculo, o lançará na água. 18. Estando a mulher de pé diante do Senhor, o sacerdote lhe descobrirá a cabeça e porá em suas mãos a oblação de recordação, a oblação de ciúme. O sacerdote terá na mão as águas amargas que trazem a maldição. 19. E esconjurará a mulher nestes termos: se nenhum homem dormiu contigo, e tu não te manchaste abandonando o leito de teu marido, não te façam mal estas águas que trazem maldição. 20. Mas se tu te apartaste de teu marido e te manchaste, dormindo com outro homem... 21. O sacerdote fará então que a mulher preste o juramento de imprecação, dizendo: o Senhor te faça um objeto de maldição e de execração no meio de teu povo; faça emagrecer os teus flancos e inchar o teu ventre. 22. E estas águas, que trazem maldição, penetrem em tuas entranhas para te fazer inchar o ventre e emagrecer os flancos! Ao que a mulher responderá: Amém! Amém! 23. O sacerdote escreverá essas imprecações num rolo e as apagará em seguida com as águas amargas. 24. E fará com que a mulher beba as águas amargas que trazem maldição, e essas águas de maldição penetrarão nela com sua amargura. 25. O sacerdote tomará das mãos da mulher a oblação de ciúme, agitá-la-á diante do Senhor e a aproximará do altar; 26. tomará um punhado dessa oblação como memorial e o queimará sobre o altar; depois disso dará de beber à mulher as águas amargas. 27. Depois que ela as tiver bebido, se estiver de fato manchada, tendo sido infiel ao seu marido, as águas que trazem maldição trar-lhe-ão sua amargura: seu ventre inchará, seus flancos emagrecerão, e essa mulher será uma maldição no meio de seu povo. 28. Mas, se ela não se tiver manchado, e for pura, ela será preservada e terá filhos. 29. Tal é a lei sobre o ciúme quando uma mulher se desviar de seu marido e se manchar, 30. ou quando o espírito de ciúme se apoderar de seu marido, de modo que ele se torne ciumento de sua mulher; ele a levará diante do Senhor e o sacerdote lhe aplicará integralmente essa lei. 31. O marido ficará sem culpa, mas a mulher pagará a pena da sua iniqüidade.

Portanto, se alguém estiver sentindo coceira na testa, mãos à obra. E vê-se por aí que mandingas desse gênero não são exclusividade de cultos de origem africana, mas estão consagradas no Livro fundamental das religiões monoteístas...