Os aspectos técnicos da xenoetologia sexual por vezes confundem os leigos. Por exemplo, como classificar o uso de bonecas infláveis? Uma leitora assídua indaga se seria um caso de masturbação, ou seja, monossexualismo? Ou seria tecnossexualismo, pelo emprego de um artefato? Ou, não podendo esse artefato ser realmente classificado como técnico, e sim como um objeto qualquer, um caso de pansexualismo?
Técnicos como meu amigo Metódio Prudente dizem que, seja como for, é indispensável o uso da correta taxonomia. Sem chegar a entrar no mérito das bonecas infláveis, diz o Metódio: Como engenheiro de software, considero extremamente importante o uso da melhor taxonomia possível, para a classificação consistente dos conceitos e o conseqüente bom entendimento dos problemas. Proponho, portanto, a adoção do termo tecnossexual para os que fazem sexo com artefatos técnicos, e do termo cibersexual para os usuários dos recursos virtuais.
Já o outro amigo d’além-mar, Manuel Rui Pontes, que, na qualidade de engenheiro de sistemas é especialista em generalidades, aduz:
Apoio tua ênfase na importância da taxonomia, ó Metódio, e venho propor-te um problema taxonómico. Estava outro dia com os camaradas em uma tasca da Alfama, a petiscar uns caracóis, tomar uns finos e discutir lérias. Depois de umas quantas, perguntou alguém o seguinte:
-Se um gajo fizer sexo com seu próprio clone, estará a dar ao hidráulico, ou será paneleiro?
Ora pois, não é preciso ser biólogo para saber que masturbação não é, e que, sendo o clone do mesmo sexo, certamente tal proceder se caracteriza como gay. Mas veio-me outra dúvida: será, no caso, um gay incestuoso? Quer-me parecer que o conceito de incesto não é preciso o suficiente para dirimir a importante questão.
Lembro-me de uma história do Robert Heinlein em que o personagem Lazarus Long manda fazer clones dele mesmo. Melhor, DUAS clones, pois os cromossomos Y são trocados por cromossomos X do próprio Lazarus, para que saiam duas meninas; o objetivo de Lazarus é ver como é que ele seria se fosse mulher, sem ter que virar transgênero. Mal as garotas atingem a puberdade, querem transar com o Lazarus. Este resiste, alegando que é incesto (a idade das meninas ele não considera problema). Elas finalmente o convencem de que seria apenas uma espécie de masturbação. Como você vê, a dúvida da turma do Manuel não é de todo despropositada.
Ao ser publicada no Orkut a observação do Manuel, levantou-se um assunto que, por vias indiretas, tem a ver tanto como tecnologia quanto sexualidade. É sabido que a moda da depilação axilar feminina foi inventada apenas em 1915, pela indústria americana de lâminas de barbear, com isso dobrando seu mercado consumidor. Daí o barbear feminino espalhou-se para as pernas e, nas últimas décadas, a lugares mais recônditos, que passaram do conceito de Mata Atlântica ao de Bigodinho de Hitler, e até a soluções ainda mais radicais. Não faltou aí a contribuição da tecnologia tupiniquim, conhecida como Brazilian Wax lá na matriz, onde segundo dizem, tornou-se em certas cidades (das quais Dallas é a mais citada) um presente tradicional para debutantes. Bem, quanto às conotações sexuais, as opiniões são extremamente divergentes.
Na ocasião, a Leitora Assídua lembrou a conhecida piadinha do Ai Jesus, mais duas!!!, que trata de uma hipotética relutância das lusitanas na adoção dessa tecnologia. Sobre isso, comentou o Manuel:
Quanto a tua historieta, talvez ainda possa passar-se em um algum recanto de Trás-os-Montes ou do Alentejo. Mas cá em Lisboa há muito se adopta entre as raparigas a moda depilatória axilar. Mesmo as conas andam a ser desarborizadas, por influência brasileira. Não me refiro à Amazónia, é claro, mas aos fatos de banho cavados.